Para Pedro Nuno, Setúbal quase foi o da Joana. Haja reformados que o salvem da derrota "com honra" que já se vaticina no PS (2025)

Ao almoço falou-se em derrota. Uma "derrota com honra", porque o PS não quer fazer como a AD e "copiar a agenda do Chega". Pedro Nuno Santos insiste nos mercados e no voto grisalho. Delfina, com quem se cruza, conta que "o maior erro" da sua vida foi ter votado num outro Pedro. O argumento do dia volta a ser o das reformas, ou melhor, do "tirinho de falsidades" que Montenegro anda a contar sobre elas. Estamos na fase final da campanha. Grita-se pelo voto de tudo e de todos: da gente que votou na AD e está "envergonhada", da gente que não encontra soluções no Chega, da gente mais à esquerda que quer uma governação "progressista". Na baixa de Setúbal, sugeriram a Pedro Nuno acender duas velinhas. A ver se a sorte muda

Desculpe caro leitor, se o transportamos para mais um mercado. É que a campanha socialista parece empenhada em captar votos juntos das bancas. Mas desta vez levamo-lo para um mercado que, segundo o USA Today, está entre os melhores do mundo: Livramento, Setúbal.

São onze da manhã. Raimundo Bernardo oferece uma ginjinha a Pedro Nuno Santos. “Há 50 anos que sou fiel”, garante este antigo militar do 25 de Abril. A bebida é servida fresquinha, para aquecer melhor.

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Tal como o clima prometia aquecer quando Joana Amaral Dias surge para confrontar Pedro Nuno Santos, se já tinha devolvido os 203 mil euros que recebeu em ajudas de custo entre 2005 e 2015 como deputado por Aveiro quando já vivia em Lisboa. O dinheiro devia servir para “viagens reais”, argumenta ela.

Pedro Nuno enrubesce. “Seja séria”, “não seja mentirosa”, repete à cabeça de lista do ADN por Lisboa. E o bate-boca fica por aqui. A justificação que deu há anos foi a de que São João da Madeira era o centro da sua vida, só passando Lisboa a ser a sua residência habitual depois de entrar no primeiro Governo de António Costa.

O estrago que Joana Amaral Dias desejava nesta campanha estava feito.

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Votos em todas as direções

Jaime Rodrigues acorda todos os dias às 5:30. Até às duas da tarde está na banca. É um dos vendedores mais antigos do Mercado do Livramento. Dos 86 anos de vida, 72 foram passados a vender azeitona. “Quase nasci num armazém de azeitonas.”

Já viu passar por aqui muitos políticos. “Têm sempre a amabilidade de me vir cumprimentar”, conta apoiado na caixa registadora de metal onde a tinta já lasca. De política não quer falar. Percebe mais de quem vai ganhar no sábado do que no domingo. “Só percebo de futebol, do Benfica e do Sporting.”

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Jaime recebe pouco mais de 400 euros de reforma. “Se não fosse por gosto, já me tinha ido embora daqui. Mas como a reforma é pequena, tenho de pedalar de outra maneira.”

Fica a observar, de longe, com um certo esgar no rosto, o secretário-geral do PS a falar aos jornalistas. É das poucas vezes que atira na direção do Chega, o partido que “não resolve nenhum problema”. “Falam alto, berram muito, mas não têm soluções.”

O PS quer também a cruz da gente que votou na AD e “hoje está envergonhada”, mas também o voto dos que estão mais à esquerda do partido, que podem olhar para esta força política como “progressista, de avanço, de defesa do Estado social”.

É por isso que Pedro Nuno desvaloriza as sondagens que lhe apontam a derrota, argumentando que o PS tem sido “largamente subestimado nas sondagens”. “Com as margens que temos hoje, isso ainda nos dá mais confiança de que vamos ganhar”, junta.

Ali perto, um dos comerciantes só quer canetas. Quando foi a vez da AD conseguiu quatro. Agora nenhuma. “O Montenegro tinha o dobro das pessoas, mas não se chegavam ao pé dele”, conta para, com justiça, traçar diferenças. A receção a Pedro Nuno até é calorosa. Ainda assim, “este devia ficar era em último lugar, abaixo do PAN”, fecha.

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Desencanto socialista

“Chegou o salvador da pátria. Ninguém se lembra que ele foi um péssimo ministro, um trapalhão.” A reformada que diz esta frase – e que recusa dizer como se chama - à chegada de Pedro Nuno Santos não esperava ser apanhada numa banal ida às compras. É que a vida continua apesar dos políticos. Arruma-se o morango, amanha-se o peixe, toma-se o café.

Gisela Carmo, sim, parou para ver a multidão. Foi a mulher dos sete ofícios. Teve uma bilheteira, vendeu peixe, foi costureira. Agora está reformada. “Estou toda arrepiada”, conta, aos 80 anos. Não é porque está a passar Pedro Nuno Santos, mas sim o PS, o partido onde a família se revê e que o marido, Afonso, representou enquanto deputado na Assembleia Constituinte.

Gostar de um partido não impede que se lhe faça críticas. “Acho que dizem muito mal uns dos outros, principalmente este líder. Precisava de olhar mais para nós, em vez de estar a dizer mal. Para ele vai ser difícil. Tenho muitas dúvidas de que consiga ganhar.”

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Passos, "o maior erro" de Delfina

Uma outra vendedora empoleira-se numa cadeira para tirar uma fotografia a quem passa. Não quer dar o nome, diz que atrás do balcão tem de ser de todos os partidos para não perder clientes. Pedro Nuno Santos é o homem que ela quer ver a governar, confessa. Tanto que lhe oferecia umas cerejas para ir debicando neste dia de campanha em Setúbal.

“Uma cerejinha, para o doce ou para o amargo de boca”, que nunca se sabe o que vai acontecer, brinca. E a Montenegro fazia o mesmo? “É melhor ele ficar só com o caroço, que já nos chupou muito.”

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Do outro lado do mercado, Delfina Valente aproxima-se do candidato socialista para o cumprimentar. Quer falar daqueles que nunca descontaram e têm reformas de 600 euros, próximo dos mil euros que ela, agora no merecido descanso, leva para casa. “A realidade é dura”, responde-lhe Pedro Nuno.

Delfina tem o voto decidido, não quer os fantasmas do passado de volta, dando força ao argumento forte do PS durante esta campanha: o do regresso da austeridade dos tempos da troika. “Não quero que a direita tenha a maioria, porque vão alterar as regras todas das pensões. Eu votei no Passos Coelho e foi o maior erro da minha vida.”

Um almoço a antecipar domingo?

Apesar do aparente entusiasmo nas ruas, no PS ouve-se falar de derrota duas vezes no mesmo almoço-comício na Costa da Caparica. Primeiro, Inês de Medeiros, autarca de Almada, avisa que “só perde quem desiste de lutar” – algo que o PS, diz, não fará.

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Vem depois Álvaro Beleza, antigo mandatário de Pedro Nuno, reconhecer que prefere um PS a “perder com honra” do que andar a “copiar a agenda do Chega" como faz a AD.

“Não trocamos valores por votos. Preferimos perder com honra do que vender os nossos valores”, afirma, numa intervenção focada na apresentação do PS como um “porto seguro” e na necessidade de não arriscar à direita.

O líder socialista, como sempre, termina o aperitivo. Para a sala passar da palavra ao pão. Novamente, o foco nos reformados e no “tirinho de falsidades” que Montenegro lhes tem contado. E contrariar o que internamente alguns vaticinam no PS. “O grande azar da AD, o grande azar de Luís Montenegro é que quem manda é o povo que vai no domingo votar e nós vamos ganhar.”

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Duas velinhas a ver se a sorte muda

Fátima Varela, antiga educadora de infância, sugere a Pedro Nuno que coloque “uma velinha à Senhora da Nazaré e outra à Senhora de Fátima”. O socialista responde-lhe que a mãe, por livre vontade, há de tratar disso.

Apesar do conselho, Fátima não está a desejar sorte ao secretário-geral do PS. “Ele tem um certo ar, politicamente talvez não”, justifica-se, para contar o contacto que ambos tiveram. Mesmo com a fama que o persegue de ser radical, Fátima queria ver Pedro Nuno a alinhar ainda mais à esquerda. “A AD ganha, que isto é um país de terceiro mundo.”

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Poucos minutos depois, Pedro Nuno brinda com um moscatel na baixa de Setúbal. A acompanhar há o cabeça de lista António Mendonça Mendes e o antigo presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva. O clima quer-se de festa. Há balões a orientar a mancha humana, compostinha, que as ruas apertadas fazem parecer maior às câmaras de televisão. Nas janelas, jotas estrategicamente posicionados, rebentam tubos cheios de confetes.

Aos jornalistas, Pedro Nuno recusa comentar a candidatura do almirante Henrique Gouveia e Melo, diz-se “focado em mobilizar os portugueses” para domingo. E completa que estas eleições são “uma oportunidade” de o país ter “políticos transparentes, que não fujam ao escrutínio”.

Quem trata do assunto Gouveia e Melo, momentos antes, é Santos Silva:“Primeiro, trata-se de uma pessoa que muda de opinião muito facilmente, em segundo lugar que se trata de uma pessoa que parece não perceber a diferença entre eleições legislativas e eleições presidenciais. Essas duas constatações significam dois recursos negativos para quem pretende ser Presidente da República.”

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A baixa de Setúbal já não é o que foi outrora, lamenta o Senhor Faria, um dos comerciantes que vê Pedro Nuno Santos entrar porta dentro perante a ausência de gente na rua. Antes das velinhas, há a Casa da Sorte. E a sorte, como se sabe, nunca está definida à partida. “Para domingo não há nada traçado. Desde que não haja maioria absoluta. O melhor é que governem com minoria, que assim são fiscalizados.”

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